Um dos 38 réus do mensalão, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), de 59 anos, recebeu alta médica na manhã deste domingo do Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona Sul do Rio, onde estava internado para tratamento de um câncer no pâncreas. Em entrevista coletiva, Jefferson atacou o ex-ministro da Casa Civil do governo Lula José Dirceu, também réu no processo e apontado na denúncia como ”chefe de quadrilha. Segundo o presidente nacional do PTB, delator do Mensalão, ele salvou o Brasil de Dirceu.
- A minha luta era com o Zé Dirceu. Ele me derrubou, mas eu salvei o Brasil dele. Isso para mim é satisfatório. Ele (José Dirceu) não foi, não é e não será presidente do Brasil. Caímos os dois – disse Jefferson.
Ao comentar sobre o seu diagnóstico, o ex-deputado afirmou:
- Eu sou um guerreiro. Já peitei o PT sozinho de frente. O que não vou fazer com um cancerzinho de pâncreas? Vou dar de pau nele, declarou o ex-deputado, ao lado da esposa Ana Lúcia.
Ainda sobre o caso Mensalão, Jefferson afirmou que a luta a partir de agora é da opinião pública:
- Meu octógono de luta com ele (José Dirceu) já exauriu. Agora, a luta é de vocês (jornalistas), da opinião pública e dos ministros (do Supremo Tribunal Federal).
O ex-deputado voltou a defender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que ele não sabia do esquema do Mensalão. Mas deu a entender que seu advogado, Luiz Francisco Barbosa, citará Lula em sua defesa. Em entrevista ao GLOBO, há duas semanas, Barbosa afirmou que Lula não só sabia do esquema fraudulento, como também o ordenou.
- Ele (Barbosa) deduz com raciocínio constitucional. E eu só afirmo aquilo que eu vi – acrescentou o ex-deputado, que disse torcer para que o STF faça justiça e que a Corte ”afirme a democracia do Brasil”.
O ex-deputado revelou também que tem acompanhado todo o julgamento do mensalão pela tevê:
- É o maior momento de afirmação da democracia no Brasil. Nunca nossas instituições de direito democrático foram tão sólidas.
Ao ser questionado pelo GLOBO, Jefferson comentou ainda o bate-boca entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Levandovski no primeiro dia de julgamento, depois que Márcio Thomaz Bastos, um dos advogados de defesa dos réus, pediu o desmembramento do processo.
- Eles (Barbosa e Levandovski) são seres humanos como nós. Quando você é muito exposto na mídia, suas virtudes são ressaltadas, e os seus defeitos também. Como aquela Corte está sob o controle total da mídia, os defeitos ficam exponenciais – disse Roberto Jefferson.
O ex-deputado falou ainda sobre o relatório de acusação lido pelo Procurador Geral da República, Roberto Gurgel:
- O procurador fez uma bela peça de acusação. Foi muito eficaz, apesar da prova ser frágil. Ele tem razão em muitas coisas que falou durante as cinco horas em que leu o relatório. Mas também não tem razão em tantas outras.
Na última sexta-feira, ao fim do julgamento, o procurador-geral da República pediu a prisão de 36 réus, incluindo o político. Gurgel pediu a absolvição, por falta de provas, de dois acusados: o ex-secretário de Comunicação Luiz Gushiken e Antonio Lamas, ex-tesoureiro do Partido Liberal, uma das cinco formações implicadas no escândalo.
Jefferson foi o delator do Mensalão em 2005. Até hoje, o ex-deputado admite ter recebido do PT R$ 4,5 milhões. No entanto, diz que o dinheiro foi usado pelo PTB nas eleições de 2004 e não para comprar o apoio do seu partido no Congresso em favor do governo Lula, entre 2003 e 2004.
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